Christmas

Não me lembro quando foi o meu último Natal. Ou então, simplesmente não houve um último, foi um fim progressivo que não me deixa especificar o ano em que efetivamente o Natal terminou para mim.
Sei apenas que ao longo dos anos fui perdendo, cada vez mais, a sensação de que estava realmente nesta época natalícia.
Para mim hoje não é Natal. O Natal para mim era em casa da minha avó. Era a lareira acesa e a família toda junta. Era jogar às cartas com a minha tia e ao dominó com o meu avô. Era o conforto, o carinho e o amor. Eram as gargalhadas. Era esperar até à meia noite para abrir as prendas, numa tortura que me consumia por nunca mais chegar a hora - hoje vejo que tudo passou rápido demais.
A mesa cheia de outrora deu lugar a demasiados espaços vazios. A tristeza desta quadra instalou-se no momento em que senti a primeira ausência, uma que nunca mais poderia ser revertida. Mas não foi a única - talvez seja eu que não saiba aceitar a lei da vida, as pessoas tomam as suas opções, constroem as suas famílias e simplesmente seguem rumos diferentes, incompatíveis com os Natais que sempre irei recordar.
Todos os anos uma redução significativa do número de pessoas que se sentavam naquela mesa na noite de consoada e, consequentemente, do significado que esta quadra tem para mim. Acredito que o ponto final foi quando também eu deixei o meu lugar naquela mesa, quando a família teve de ser dividida em noite e dia de Natal - a noite com o pai, o dia com a mãe.
Hoje à mesa somos 4, mas o resto da noite sou apenas eu. Escrevo estas palavras sentada, sozinha, no sofá da minha sala. Cada um está para seu canto, não há a partilha, não há a magia que para mim tanto caracterizava este dia.
Não sou ingrata, estou confortável e de barriga cheia, há quem não tenha tanta sorte, eu sei. Mas não consigo deixar de sentir uma tristeza enorme. Hoje não é Natal e receio que nunca mais volte a ser. A árvore está montada e há prendas para abrir. E esta atitude consumista deprime-me ainda mais. Vejo como as coisas mudaram quando só me apetece dizer: quero lá saber das prendas. O Natal não é isso, nunca foi isso e agora sei. Mesmo na altura em que pensava que era, não era porque não é isso que recordo. Não me lembro das prendas que recebi, lembro-me só e apenas das pessoas que tocaram o meu coração, para sempre.

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